8.7.07















Brasão da Casa de Itararé

O Lobisomem


"A vida com moela é..."(escreve Lenson Ridrogues)


O PAVOR DO MENINO

O menino era taludo mas meio bocó. De maneira que o pai não estranhou quando, muito afobado, o garoto, com voz tremula, lhe disse: — Papai! Papai! Foi bom teres chegado agora! Estou morto de medo! Lá em cima, no quarto, tem um lobisomem!— Não seja bobo, menino! Que tolice é essa? Então você não sabe que lobisomem não existe? Lobisomem é só conversa fiada!— Não é papai! Quando tu bateste a campainha, ele saiu correndo e se meteu dentro do guarda-roupa. A mamãe ficou assustada e se fechou dentro do banheiro!

TREMENDA SURPRESA

0 chefe da família, homem resoluto e destemeroso, que voltava inesperadamente de uma viagem, decidiu subir as escadas, rapidamente, encontrando a sua alcova em desalinho. Abriu energicamente o guarda-roupa e recebe um impacto de surpresa. Encolhido, imóvel, cosido no fundo do móvel, estava o chefe do seu escritório, muito pálido e com a respiração suspensa:

REVOLTA E DESILUSÃO

— Bonito, seu Antônio! — balbuciou afinal, o dono da casa. E,dando à sua voz uma entonação de profunda, revolta e desilusão, prosseguiu:— Parece mentira! Custa-me crer no que vejo! Então, o senhor, que veio me bater à porta, morto de fome, sem roupa, sem dinheiro e a quem eu atendi com a melhor boa vontade proporcionando-lhe trabalho honrado, com um ordenado magnífico, dando-lhe um posto de inteira confiança no meu escritório, justamente no momento em que deveria estar trabalhando; fiscalizando os outros empregados, atento a seus deveres de chefe da firma, o senhor, aproveitando a minha ausência, o senhor vem a minha casa para assustar as crianças e a minha querida esposa? Acha que é correto esse seu procedimento? Vamos! Saia daí e vá cumprir as suas obrigações no escritório, antes que eu me zangue e lhe rebaixe o ordenado!

HUMILHAÇÃO E VERGONHA

O Sr. Antônio saiu muito humilhado do guarda-roupa, baixou a cabeça e retirou-se, profundamente envergonhado de seu mau procedimento.

LIÇÃO DE ALTA MORAL

O dono da casa, com o filho pela mão, vai, em seguida, ao banheiro, bate com força na porta e ordena à sua esposa para que abra ! A senhora transida de pavor, obedece. E, então, o marido tranqüiliza-a, explicando:— Não sejas tola! Tamanha mulher com medo de lobisomens... Não vês que era "seu" Antônio o chefe do escritório que, em vez de estar trabalhando, veio fazer essa brincadeira besta de vir assustar vocês? Também ele ouviu poucas e boas...

Moral: Em mulher ordinária e porta de lotação só batendo com força.


Barão de Itararé


Texto extraído do livro “Almanhaque 1955 – 1º Semestre”, edição fac-similar publicada por Studioma/Kraft Comunicação/Letra & Imagem – São Paulo, com a participação da Secretaria de Estado da Cultura do Estado de São Paulo, 1990, pág. 188.texto postado no sitio releituras

__________

Algumas Máximas e Mínimas do Barão, que repetimos hoje em dia sem saber que foram de sua autoria:

. De onde menos se espera, daí é que não sai nada.

. Mais vale um galo no terreiro do que dois na testa.

. Quem empresta, adeus...

. Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.

. Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.

. Quando pobre come frango, um dos dois está doente.

. Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre.

. Quem só fala dos grandes, pequeno fica.

. Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica.

. O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.

. Os juros são o perfume do capital.

. Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.

. O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.

. Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.

. Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.

. Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem.

. É mais fácil sustentar dez filhos que um vício.

. A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.

. Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai.

. Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.

. Mulher moderna calça as botas e bota as calças.

. A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.

. Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.

. Gordo não dança se não sacode a pança

. A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.

. Quem inventou o trabalho, não tinha o que fazer.

. Testamento de pobre se escreve na unha.

. Tempo é dinheiro. Vamos, então, fazer a experiência de pagar as nossas dívidas com o tempo.

. Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.

. O fígado faz muito mal à bebida.

. O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.

. A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas, em geral, enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.

. Com dinheiro à vista toda gente é benquista.

. Se você tem dívida, não se preocupe, porque as preocupações não pagam as dívidas. Nesse caso, o melhor é deixar que o credor se preocupe por você.

. O homem é um animal que pensa; a mulher, um animal que pensa o contrário. O homem é uma máquina que fala; a mulher é uma máquina que dá o que falar.

. O homem que se vende recebe sempre mais do que vale.

. A solidez de um negócio se mede pelo seu lucro líquido.

. Que faz o peixe, afinal?... Nada.

. A sombra do branco é igual a do preto.

. "Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo...

. Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.

. Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!

. Devo tanto que, se eu chamar alguém de "meu bem" o banco toma!

. Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta...


________________

Nascido Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly em 1895, na cidade de Rio Grande-RS e mais tarde auto-rebatizado com a divertida alcunha de O Barão de Itararé.
Iniciou sua carreira na minha cidade dormitório São Leopoldo, com o jornal "Capim Seco" o qual a cidade infelizmente ignora por completo...
Depois Apporelly passou a estudar medicina em Porto Alegre e concomitantemente escrevia poemas, versos sempre com muito bom humor (sua marca registrada)... Passa por alguns problemas de saúde e se dedica então ao jornalismo. Em 1925, muda-se para o Rio de Janeiro sob o convite de Mário Rodrigues (pai do Nelson) e começa a escrever uma coluna na primeira página do jornal "A Manhã".
Funda o jornal " A Manha". Fazia um humor inteligente sem subestimar a inteligencia alheia, inventava histórias mirabolantes e fantasticas com muita critica social. É seqüestrado e espancado por oficiais da marinha nunca identificados, depois é solto a redação e afixa uma placa na porta: "Entre sem bater".
Acaba sendo preso, junto com Hermes Lima, Eneida de Morais, Nise da Silveira, Graciliano Ramos, Olga Benário. Depois de solto é preso por diversas outras vezes, mas sempre encabeçando a lista de defensores das liberdades democráticas. Eleito pelo PC do B para a Câmara de Vereadores do Distrito Federal com o slogan "Mais leite, mais água, mas menos água no leite — Vote no Barão de Itararé".
A convite de Luiz Carlos Prestes, passa a colaborar com a "Folha do Povo". Faziam parte da equipe Carlos Drummond de Andrade, Di Cavalcanti, Jorge Amado e o jovem Sérgio Porto (posteriormente conhecido como Stanislaw Ponte Preta). No dia 27 de novembro de 1971, falece aos 76 anos de idade, Apparício Torelly vitima da esclerose.

Marcadores: