19.3.06

Vocês conhecem o Mario?





















Este é o ano do centenário de nascimento do grande poeta Mário Quintana.
Portanto comecemos as nossas homenagens também:

DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
Mario Quintana - Espelho Mágico

INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce – uma estrela,
Quando se morre – uma cruz.

Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"
Mario Quintana - A Cor do Invisível

INSTRUMENTO

Impossível fazer
um poema neste momento.
Não, minha filha,
eu não sou a música
- sou o instrumento.

Sou,
talvez,
dessas máscaras ocas num arruinado monumento:
Empresto palavras loucas
à voz dispersa do vento...

Mário Quintana


SER E ESTAR

A nuvem, a asa, o vento,
a árvore, a pedra, o morto...
tudo o que está em movimento,
tudo o que está absorto...

Aparente é esse alento
de vela rumando um porto.
Como aparente é o jazimento
de quem na terra achou conforto...

Pois tudo o que está imerso
neste respirar do universo
- ora mais brando
- ora mais forte
porém sem causa definida.

E curto é o prazo da vida...
E curto é o prazo da morte.

Mário Quintana


OUTRA CANÇÃO

Não me deixem ir tão só,
Tão só transito de frio...
Eu quero um renque de vozes
Por toda a margem do rio!
Como alguém que adormecendo
E umas vozes escutando,
nem soubesse que as ouvia
ou se as estava sonhando.
Eu quero um renque de vozes
Por toda margem do rio:
Vozes de amigo calor
Na lenta e escura descida
Como lanternas de cor
E aonde mais longe eu me for
(Quanto mais longe da vida!)
A borboleta perdida
Da tua voz, pobre amor...

Mário Quintana

O MORTO
Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
E quando eu começava a compreendê-lo
Um pouco
Já eram horas de dormir de novo!
Mário Quintana