9.10.05























Charles Bukowski (1920-1994) escritor maldito, que preferia retratar os perdedores, os excluídos, os bêbados, as prostitutas e a marginalidade.
Escreveu entre tantas nojeiras, o argumento dos filmes Barfly, Crônica de Um amor louco, além dos livros Notas de um velho safado, Hollywood e Fabulário Geral do Delírio cotidiano.
Aqui está um conto do livro Numa Fria (também encontrado em pocket).


O Homem Que Adorava Elevadores

Parado na garagem do edifício, Harry esperava que o elevador descesse. Quando a porta se abriu, ouviu a voz de uma mulher às suas costas. ‘‘ Um momento por favor !’’ Ela entrou no elevador e a porta fechou-se. Usava um vestido amarelo, o cabelo armado no alto da cabeça e uns tolos brincos de pérolas penduradas em longas correntes de prata. Um rabo grande, pesadona. Os seios e o corpo pareciam forçar para estourar o vestido amarelo. Tinha os olhos verdes mais claros do mundo, e olhavam-no como se ele fosse transparente. Trazia uma sacola de supermercado, com a palavra Vons impressa. Os lábios besuntados de batom. Os lábios muito pintados eram obscenos, quase feios, um insulto. O batom vermelho berrante brilhava, e Harry estendeu a mão e apertou o botão de EMERGÊNCIA.
Deu certo, o elevador parou. Harry aproximou-se dela. Com uma mão, levantou a saia, e olhou as pernas. Umas pernas incríveis, só músculo e carne. Ela pareceu apavorada, paralisada. Ele agarrou-a quando ela soltou a sacola. Latas de legumes, um abacate, papel higiênico, carne embalada e três barras de chocolate espalharam-se pelo chão do elevador. E aí a boca dele estava naqueles lábios. Eles se abriram. Ele baixou a mão e suspendeu a saia. Mantinha a boca na dela, e baixou a calcinha. Depois, em pé, possuiu-a batendo-a com força contra a parede do elevador. Quando acabou, fechou o zíper, apertou o botão do terceiro andar, e esperou, de costas para ela. Quando a porta se abriu, ele saiu. A porta fechou-se e o elevador se foi.
Harry caminhou até o seu apartamento, enfiou a chave e abriu a porta. Sua esposa, Rochelle estava na cozinha preparando o jantar.
- Como é que foi? – ela perguntou.
- A mesma merda de sempre - ele disse.
- Jantar em dez minutos – ela disse.
Harry foi ao banheiro, tirou a roupa e tomou uma chuveirada. O trabalho estava lhe dando nos nervos Seis anos, e não tinha um centavo no banco. Era assim que pagavam a gente – só davam o bastante para a gente se manter vivo, mas nunca para acabar se escapando.
Ensaboou-se bastante, enxaguou-se e ficou ali parado, deixando a água muito quente escorrer pela nuca. Isso tirava o cansaço. Enxugou-se e vestiu o roupão, entrou na cozinha e sentou-se à mesa. Rochelle servia os pratos. Bolinho de carne e molho. Ela fazia bons bolinhos com molho.
- Escuta – ele disse -, me diz uma coisa boa.
- Boa?
- Você sabe.
- A menstruação?
- É.
- Ainda não veio.
- Nossa.
- O café não está pronto.
- Você sempre esquece.
- Eu sei. Não sei o que me faz fazer isso.
Rochelle sentou-se, e começaram a comer sem o café. Os bolinhos de carne estavam bons.
- Harry – ela disse -, podemos fazer um aborto.
- Tudo bem – ele disse -, se for esse o caso, a gente faz.
Na noite seguinte, ele entrou no elevador e subiu sozinho. Foi até o terceiro andar e saltou. Depois deu meia-volta, tornou a entrar e apertar o botão. Desceu até a garagem, saltou, foi até seu carro e ficou sentado esperando. Viu-a subindo a rampa, desta vez sem as mercadorias. Abriu a porta do carro.
Desta vez, ela usava um vestido vermelho, mais curto e mais justo que o amarelo. Tinha os cabelos compridos. Quase chegavam ao traseiro. Tinha os mesmos brincos tolos e os lábios mais besuntados de batom do que antes. Quando ela entrou no elevador, ele seguiu-a. Subiram, e mais uma vez ele apertou o botão de EMERGÊNCIA. E estava em cima dela, os lábios naquela boca vermelha obscena. Mais uma vez ela não usava meia-calça, só meias vermelhas até os joelhos. Harry baixou a calcinha e meteu. Bateram nas quatro paredes. Durou mais tempo desta vez. Depois Harry fechou o zíper, deu as costas a ela e apertou o botão ‘’3’’.
Quando abriu a porta, Rochelle cantava. Tinha uma voz terrível, e Harry correu para o chuveiro. Saiu de roupão, sentou-se à mesa.
- Nossa – disse -, demitiram quatro caras hoje, até Jim Bronson.
- Isto é muito ruim – disse Rochelle.
Havia dois bifes com batatas fritas, salada, e pão de alho quente. Nada mal.
- Sabe há quanto tempo Jim estava lá?
- Não.
- Cinco anos.
Rochelle não respondeu.
- Cinco anos – disse Harry. – Eles pouco estão ligando, os sacanas não têm dó.
- Desta vez não esqueci o café, Harry.
Ela curvou-se e beijou-o ao encher a xícara.
Estou melhorando, está vendo?
- É.
Ela foi sentar-se.
- Meu período começou hoje.
- Quê? É verdade?
- É, Harry.
- Isso é sensacional, sensacional...
- Não quero filho enquanto você não quiser, Hary.
- Rochelle, a gente deve comemorar! Uma garrafa de bom vinho. Vou pegar uma depois do jantar.
- Já peguei, Harry.
Harry levantou-se e contornou a mesa. Ficou quase atrás de Rochelle e puxou a cabeça dela para trás com uma mão debaixo do queixo e beijou-a.
- Eu te amo, boneca.
Jantaram. Um bom jantar. E uma boa garrafa de vinho...

***

Harry saltou do carro quando ela subia a rampa da garagem. Ela esperou-o, e os dois entraram no elevador juntos. Ela usava um vestido azul e branco, estampado com flores, sapatos brancos, meias curtas brancas. Tinha o cabelo armado no alto da cabeça de novo e fumava um cigarro Benson and Hedges.
Harry apertou o botão de EMERGÊNCIA.
- Espere um minuto, senhor!
Era a segunda vez que Harry ouvia a voz dela. Era um pouco áspera, mas nada má.
- Sim – disse Harry -, que é?
- Vamos pro meu apartamento.
- Tudo bem.
Ela apertou o botão ¨4¨, subiram, a porta se abriu e caminharam pelo corredor até o 404. Ela abriu a porta.
- Bela casa – disse Harry.
- Eu gosto. Posso lhe oferecer alguma coisa para beber?
- Claro.
Ela entrou na cozinha.
- Meu nome é Nana – ela disse.
- Eu sou Harry.
Ela veio com dois drinques e sentaram-se no sofá e beberam.
- Eu trabalho na loja Zody – disse Nana.- Sou balconista da Zody
- Isso é ótimo.
- Que diabo têm isso de ótimo?
- Quero dizer que é ótimo agente estar juntos.
- É mesmo?
- Claro.
- Vamos pro quarto.
Harry seguiu-a. Nana acabou sua bebida e pôs o copo vazio sobre a cômoda. Entrou no banheiro. Era um banheiro grande. Ela começou a cantar e tirar a roupa.
Cantava melhor que Rochelle. Harry sentou-se na beira da cama e acabou sua bebida. Nana saiu do banheiro e deitou-se na cama. Estava nua. O cabelo da xoxota era muito mais escuro que o da cabeça.
- Bem? – disse.
- Oh – disse Harry.
Tirou os sapatos, as meias, a camisa, as calças, a camiseta, a cueca. Depois se meteu na cama ao lado dela. Ela virou a cabeça, e ele beijou-a.
- Escuta – ele disse -, precisamos de todas essas luzes acesas?
- Claro que não.
Nana levantou-se e apagou a lâmpada do teto e do abajur ao lado da cama. Harry sentiu a boca da mulher na sua. Ela enfiava a língua, mexia e retirava. Harry montou nela. Era muito macia, parecia um colchão d´água. Ele beijava e lambia os seios, a boca, e o pescoço. Continuou beijando-a por algum tempo.
- Que é que há? – ela perguntou.
- Não sei – ele disse.
- Não está funcionando, é isso?
- Não.
Harry levantou-se e pôs-se a vestir-se no escuro. Nana acendeu a lâmpada de cabeceira.
- Que é você? Um tarado de elevador?
- Não..
- Só consegue em elevadores, é isso?
- Não, não, você foi a primeira, mesmo. Não sei o que deu em mim.
- Mas eu estou aqui agora – disse Nana.
- Eu sei – ele disse, suspendendo as calças. Sentou-se e pôs-se a calçar as meias e os sapatos.
- Escuta, seu filho da puta...
- Sim?
- Quando estiver pronto e me quiser, venha ao meu apartamento, entende?
- Sim, entendo.
Harry estava inteiramente vestido e de pé de novo.
- Não mais no elevador, entende?
- Entendo.
- Se você algum dia me estuprar no elevador de novo, eu chamo a polícia, é uma promessa.
- Tudo bem, tudo bem.
Harry saiu do quarto, atravessou a sala de visita e deixou o apartamento. Foi até o elevador e apertou o botão. A porta abriu-se e ele entrou. O elevador começou a descer. Uma orientalzinha a seu lado. Saia preta, blusa branca, meia calça, pés miúdos, sapatos de saltos altos. Pele morena, uma simples sugestão de batom. O corpo minúsculo tinha um rabo espantoso, sexy. Olhos castanhos e muito fundos, parecendo cansados. Harry estendeu a mão e apertou o botão de EMERGÊNCIA. Quando se aproximou, ela gritou. Ele deu-lhe uma forte bofetada no rosto, tirou o lenço e enfiou-lhe na boca. Passou um dos braços pela cintura dela, e enquanto ela lhe azunhava o rosto com a mão livre, ele baixou o braço e arrancou-lhe a saia. Gostou do que viu.

1 Comments:

Blogger Disneylandias.BlogSpot.Com said...

Bukowski é demais!

11:57 AM  

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