Antes desta onda de sexo virtual, Luis Fernando Veríssimo publicou este texto no livro O Suicida e o Computador em 1992.
Se transportarmos este texto para a atualidade, certamente os personagens se enviariam por e-mail com os problemas dos temíveis vírus eletrônicos.
Daqui a 10 anos a tecnologia certamente irá mudar, mas as falhas na comunicação certamente permanecerâo não é mesmo??
FAX AMOR
Um dia, amor, nos remeteremos um ao outro pelo espaço, via fax desdenhando o transporte público ou possíveis cadillax nossos impulsos passionais transformados em impulsos fonais e os nossos ais agônicos em sinais eletrônicos.
E eu estarei do seu lado em questão de instantes ou você do meu, de preferência antes.
Em vez da folha rabiscada de paixão receberás, na tua máquina, a minha mão.
Depois um braço, o outro, o tronco, o ouvido todo o conjunto, enfim, de um homem transmitido.
Ou em vez da carta com a proposta tentadora ali estará você, com ela, na minha copiadora!
E nos amaremos, como todos no ano dois mil e três, com cuidados profiláticos e extrema rapidez.
E depois, saciados, a alma solta
Nos meteríamos no aparelho e nos mandaríamos de volta...
Mas um dia, ah, já estou adivinhando:
você chegará com um trecho faltando.
Uma linha borrada, um olho lastimável, uma curva apagada, um seio indecifrável.
Ou então chego eu, animado e contente
mas- maldição!- sem a parte competente.
E só o que faremos juntos, nesse dia fatal
Será criticar, como sempre, o similar nacional.
Luis Fernando Veríssimo
1 Comments:
Muito bem lembrado!!
Em 92 o fax era o auge da tecnologia.
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