A rEevolução do Homem

Quando três gaúchos se reúnem numa roda de chimarrão, até as corujas silenciam para escutar a conversa. Uma fogueira no centro, lambendo a escuridão da noite que serve como teto amplo desta vasta querência terrena.
Os três, mateavam falavam e riam despreocupados com a lida do campo, até que Anastácio, vivente gordo e teatino, que andava afastado dali havia mais de ano pergunta:
- Mas tchê! E que fim levou o compadre Crescêncio?
Subitamente os outro dois estancaram. Congelaram. Murcharam o riso que corria frouxo nas faces. Anastácio estranha aquela reação e insiste:
- Que foi? Vão me dizer que aconteceu uma desgraça?
- Pior...- Respondeu Tobino
- Então o Crescêncio casou com uma argentina?
- Quem déra...
- Mas antão conta tchê!
- O Crescêncio faz uns seis meses, foi até a capital cuidar dos cavalos do patrão pra aquela exposição... Como é mesmo o nome da exposição Juvêncio?
- Expointer.- respondeu, fazendo roncar a bomba do mate.
- Isso Expointer!
- E o que têm de mais compadre Tobino?
- Acontece que o Crescêncio conheceu por lá uma china, linda uma barbaridade, de cabeleira loira e cheia das idéia esdrúxula. Pois não é que o Crescêncio se enrabichou pela tipa? Até pensei que ia ficar por lá mesmo, quando enfim, acabou voltando...
- Voltou mas não era o mesmo- acrescentou Juvêncio enchendo a cuia de água e passando o mate adiante.
- Como assim?
- Ele diz que virou mé...mét-métro... o quê mesmo Juvêncio?
- ... Sexuali! Metrosexuali.
- Tchê! O compadre Crescêncio bicharóca??
- Não é homisexual Anastácio!! É metrosexuali.
- Mas e tem deferença? Que diabo é isso?
- O Crescêncio diz que anda mais sensível e cosa e tal, toma banho todo dia, se barbeia, põe prefume...
- Mas então ele só deixou de ser porco!
- Não compadre. Metrosexuali é quando o índio coloca botox no rosto...
- BOSTOX??
- Botox! A cara fica esticada que é uma barbaridade. Parece até camisa bem passada.
- Cos de lôco. E o que mais?
- Despues o Crescêncio fez chapinha nas crina da égua Mafalda.
- Não!
- Mandou um tal de Clodovil, costureiro lá do centro do país fazer umas bombacha verde fosforescente e cheia de enfeite...
- Sacrilégio!
- Semana passada no restaurante da dona Zefa, pediu mocotó light.
- Má que barbaridade!
- Meu Deus!
- Pos é...
Anastácio deu uma longa tragada no palheiro. Contemplou a triste figura de seus dois sorumbáticos amigos. Pensou nos pormenores da vida... Pensou nos aviões que passavam encima de suas cabeças e nos cabos telefônicos que correm lá embaixo no solo. Pensou nas ondas de rádio que passeiam invisíveis no ar, vibradores elétricos, sangrentos noticiários televisivos, na dança do maxixe (um homem no meio com duas mulheres fazendo o sanduíche)....
Pensou nas emanações resíduo industriais, no efeito estufa, na extinção do macaco bugio e agora neste novo homem metrosexual. Levantou-se de pronto e gritou:
- Tchê! Aperpara os armamento que a tal modernidade tá vindo e já levou um de nós!
Marcadores: Crônica
1 Comments:
Cara!!
Parabéns pelo texto.
Chorei de rir.
Continue assim...
Postar um comentário
<< Home