Alguém é uma Ilha

Mais um dia começa. Uma nova garrafa que eu abro. O calor é infernal e nem mesmo a geladeira no máximo consegue impor algum frescor aos líquidos. Têm dias que a realidade parece mais cruel que outros. Têm dias que ninguém aparece para nos incomodar. E têm dias que não.
De tanto perder a chave do apartamento, e também de tanto os assaltantes arrebentarem o batente da porta para entrar aqui, deixo agora esta porra escancarada. Quem quiser entrar que entre. Quem quiser olhar pra dentro que olhe.
Só reclamam quando eu cago de porta aberta e o fedor empesteia o corredor, sobrepondo-se ao persistente cheiro de vômito do prédio. Parece que chegou alguém. Uma mão hesitante dá três batidas na porta aberta. Uma figura aguarda do lado de fora:
- Pode entrar.
- Bom dia Sr. Ávila. Espero não estar incomodando. Meu nome é Luana, vim aqui para saber se o senhor poderia me ajudar...
Quando Luana entrou, pensei na hora que não existiam mais mulheres gostosas assim. Ou pelo menos transitando num lugar como este. Ela foi falando e entrando mansamente como uma gata. Fechei os olhos e tentei sentir o cheiro que emanava de seus poros, seu perfume, seu cabelo, sua buceta. Linda, linda, mas o maldito fedor de vômito no corredor ainda era mais forte.
- Ajudar com o que minha filha? Já vou adiantando que se for dinheiro eu...
- Não! De maneira nenhuma. Veja – disse ela me alcançando uma folha de papel – utilizaram um texto do senhor no concurso para oficial de justiça deste ano.
Era um artigo sobre a crescente lazeira urbana, que eu tinha feito sob encomenda para um jornal do centro do país. Não era lá das melhores merdas que eu já tinha escrito, mas até que estava bom.
-Porra! Nem me lembrava mais de ter escrito isso.
- Pois bem, eu sou de São Paulo e fiz a prova para este concurso. Fui muito bem, alcançando uma média excelente de...
- Ei, ei, ei. Dá pra ir direto ao assunto? Minha cerveja esta esquentando...
- Oh sim, claro... Me deram errado na questão de interpretação do seu texto. Devo dizer que é uma questão muito nebulosa. Se o senhor ler, notará que...
- Eu acredito em você. Mas afinal o que quer?
- Preciso de uma declaração do senhor, dando um parecer que afirme a exatidão de minha resposta.
- Só isso? Ok, ok... Senta aí e me diga o que tenho de escrever.
Ela se senta no sofá de frente para mim, expondo um decote que por pouco não me revelavam os bicos rosados de seus pequeninos seios. A voz de Luana saia rouca de sua garganta, e enquanto ela ditava, eu rabiscava sem nem mesmo olhar para o papel. Finalmente, ela terminou de ditar, e pediu que eu subscrevesse no rodapé da folha. Ao terminar de assinar, Luana me desfraldou um sorriso encantador e antes que ela pudesse alcançar a folha de papel, eu a enfiei subitamente dentro das calças, enrolando a declaração na cabeça do meu pau.
- E então? Não vai pegar?
Ela me olhou com espanto. Pela sua expressão pude notar que ela jamais poderia esperar por aquilo. Pobre e ingênua Luana...
- Seu velho porco decrépito! Sujo, bêbado... Enfie esta merda no cu!
Levantou-se, e num só movimento já estava de costas indo em direção a porta.
- Ei volte aqui! Me mostre alguma gratidão porra!
Luana partiu. Abri as calças, peguei o papel que estava enrolado em meu pau, e joguei fora. Aproveitei então e soquei uma bela punheta de porta aberta.
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