VIVENDO E APRENDENDO

Coloquei a mão no bolso. Três reau. Que coisa. Tomo em canha, ou levo pra casa e entrego pra mulher? Ela certamente vai chiar e me chamar de inútil pra baixo. Gilda sempre reclama, mas entende. São quase seis da tarde e não consegui nada, nem um seuviço nem mesmo pra entregar papel de propaganda de cartomante na Rua da Praia.
- Aqui é o quê?
A moça me respondeu mostrando os dente:
- Marcas e patentes. O senhor gostaria de fazer um registro ?
Eu respondi que sim, mesmo porque, aquela não era mulher de se negar nada.
Ela me mandou entrar numa fila e eu fui. Fiquei lá, parado, até ser atendido numa outra cabine, dessa vez por um cara gordo e bigodudo que parecia o gaúcho da propaganda do Coscarque:
- Pois não? -Ele perguntou.
- Pois é... - Eu respondi
Vi que ele não estava de bom humor quando me perguntou de novo:
- O senhor veio aqui para fazer um registro de patente?
Falei que sim. Eu não era um torneiro hidráulico tão bom quanto o meu primo Felipe, mas até que dava pra enganar:
- E o senhor quer registrar o que?
Eu perguntei:
- Como assim?
Eu vi que ele me respondeu só pra sacanear:
- Registrar, oras... O senhor conforme artigo 5º, parágrafo XXIX da constituição federal, têm direito à propriedade de marcas nomes, inventos industriais e signos distintivos.
Não sei o quê me deu nessa hora, mas foi como se eu fosse um doutô, desses dos bem graúdo e sabido. Respondi então pro gordo:
- Ah...Eu quero registra o A.
O gordo tirou o sorrisinho da cara e perguntou :
- Registrar o quê?
Respondi de novo que queria registrar o A. Ele chamou o patrão dele e explicou no pé do ouvido do homem, que eu queria registrar a letra A. Discutiram... Mexeram nums papel... Fizeram umas ligação...Finalmente o gordo veio bem sério falar comigo:
- Para efetuar o registro da letra A o senhor deve pagar uma taxa de R$ 2,60.
Paguei, recebi quarenta centavo de troco e ganhei um papel cheio de carimbo e assinatura que me dava - como ali dizia " Direito a propriedade de marca da letra A". Enrolei o papel, enfiei debaixo do braço e sai. Na porta, a moça tetuda me desejou bom dia e eu já cobrei:
- Me deve R$ 1,00 pelo A!
Naquela noite cheguei com três mil REAIS em casa, e agora Gilda não reclama mais...
Marcadores: Crônica
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