3.12.04

PRELÚDIO NOTURNO














Hoje, num destes desvarios tão comuns da adolescência, me detive em frente ao espelho reparando em minha torpe e inútil imagem ali refletida. Eu, diante de mim mesmo... Comecei a me sentir angustiado com esta iconoclastia absurda, ponderei mais uns instantes, besuntei o cabelo de gel, peguei a carteira e parti. Sempre cumpro este ritual antes de sair. Devo confessar-lhes que a noite, nunca foi uma boa companhia, especialmente para alguém que esta deprimido. A noite é uma amiga amarga e cruel, cujas faces deslocadas de civilidade e loucura se expõem numa amostra bizarra pelas ruas, bares e inferninhos.
Esta noite em especial, uma gigantesca lua cheia, vêm ao auxílio da parca iluminação pública. E é assim, como um imenso holofote, que a noite expõe toda a canalhice do mundo pagão. Mendigos tiritando de frio, cheirando a cachaça, deitados em valas comuns de calçadas imundas. Meninas ricas, que almejam meninos ricos, que almejam meninas ricas, e a burguesia que se perpetua. Esquizóides envoltos num manto de cultura, escutam música, conversam em bares ou vão ao cinema. Crentes que rezam louvando ao Senhor, numa inconsciente sensação de culpa, hipnotizados pela possibilidade de redenção não notam assim, que o pastor acaba de bater sua carteira. Prostitutas em final de carreira, e reboleantes travestis expõem seus corpos no imenso açougue urbano.
E é aqui que me encontro, perdido em meio a estas vidas anárquicas. Perdido em meio a este caos delirante. Perdido em meio aos dias que passam. E a noite, é forjada deste caos. É fruto da profusão de extremos que os dias não têm. A noite as pessoas conversam mais, amam mais, se violentam mais. E é de noite que o silêncio impera. E lhe entregamos o cansaço de nossos corpos, para quando acordarmos, entregar ao dia o cansaço de nossos espíritos.
Continuo caminhando, e passo incólume em meio a uma gangue de crianças renegadas, cujo cheiro que emanam de benzina e cola me revoltam o estômago. Eles sabem que sou apenas um figurante. Assim como sabem que a noite é mais um ato desta peça insana. Transponho as distancias urbanas e chego finalmente ao meu destino. A boate está cheia, e uma fila imensa é a minha garantia que a noite esta apenas começando...
















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1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Linda sua percepção da noite. Um pouco depressiva assim como tal.
Muito bom!! Continue poor favor!!
Elliot Tebas

8:22 AM  

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